Grafite Urbano

Grafite urbano compõe decoração da mostra Casa Cor 2014 no Rio

Anjos feitos pelo artista Wark Rocinha são comuns em ruas da cidade.
Exposição de arquitetura, paisagismo e decoração começa 29 de outubro.

Guilherme Brito e Mariucha Machado Do G1 Rio

Espaço dos paisagistas Guilherme Portugal e Karyne
Lima no Casa Cor 2014
(Foto: Guilherme Portugal/Arquivo Pessoal)

No lugar da parede branca, uma arte urbana para revolucionar a percepção do espaço e a noção comum que há em relação à casa. Uma das mais completas exposições de arquitetura, decoração e paisagismo das américas, a Casa Cor, trouxe o aerosol e a criatividade do grafite para dentro dos cômodos. A edição deste ano, que começa nesta quarta-feira (29) e vai até 7 de dezembro, conta com algumas intervenções de artistas de rua que se relacionam com os móveis. A mostra ocorrerá no Casa Shopping, na Barra da Tijuca, Zona Oeste.
Anjos na varanda
Os anjos grafitados colorem a varanda no espaço "Balcony Inspiration", assinado pelos paisagistas Guilherme Portugal e Karyne Lima. Os desenhos foram pintados na cobertura e na parede ao lado, com o objetivo dar vida e descontrair o ambiente.
“Tem um anjo principal e outros menores desempenhando diversas atividades. Um presenteando, outro tocando violino, outro no balanço, um regando as plantas e outra anjinha sendo presenteada”, explicou Guilherme Portugal.
A ideia dos criadores, tanto paisagistas quanto o grafiteiro, era brincar com as cores e tornar a varanda um ambiente jovem e ao mesmo tempo aconchegante e elegante. Segundo o artista Wark Rocinha, o grafite, que por muitos anos foi rotulado como pichação e atividade marginalizada, agora é utilizado para dar um toque de originalidade nos locais mais conservadores.
“O preconceito era muito grande, no início era uma arte americanizada que chegou ao Brasil, mas hoje conseguiu seu espaço. O museu já abriu as portas e agora o Casa Cor”, explicou.

Anjo é um dos trabalhos mais comuns de Wark
Rocinha (Foto: Wark Rocinha/ arquivo pessoal)

Escolha dos anjos
Para Karyne Lima, a escolha de Wark foi acertada, já que seu trabalho está em estampado nas fachadas e muros cariocas. “É um artista que está muito em evidência atualmente no cenário carioca e essa linha dos anjinhos e a geometria que ele esta pintando atualmente tem tudo haver com o espírito jovem”, contou.
Sobre a escolha dos anjos, há uma explicação geométrica e artística, segundo Wark.
“Na arte renascentista, o clero romano trazia para os locais religiosos imagens angelicais por grandes artistas como Leonardo da Vinci, Michelangelo, entre outros. Eu procurei traduzir em forma do estudo de Pitágoras, com pontos, retas, triângulos, quadrados e o perfil do círculo em movimento, traçando o Dez, que significa a perfeição divina, na face e auréola dos anjos”, explicou.

Mesa de pebolim foi customizada com grafite (Foto: Andrea Duarte / arquivo pessoal )

Sala de jogos anos 80
Outro espaço dedicado à arte é a sala de jogos retro mania, planejada pela arquiteta Andrea Duarte e Ana Malta. O cômodo remonta um típico ambiente dos anos 80, com tudo que alguém que viveu a década vai lembrar - mesa de pebolim, carteado, vídeo-game Atari com jogo do Pac Man, entre outros. Para dar o retoque que o local merece, Andrea escolheu o grafite para colorir a mesa de pebolim.

Objetos da sala de jogos foram inspitados em
elementos dos anos 80
(Foto: Andrea Duarte / arquivo pessoal)

"O grafiteiro foi o Leo Viansa, que fez um desenho baseado no tema foram As Cores do Espaço. O local é bastante descontraido e a arte urbana se encaixa quase como uma obrigatoriedade", disse a arquiteta.
A ideia, segundo ela, surgiu devido à escassez de mesas de pebolim com estilo e criatividade. O público que frequenta a Casa Cor é variado, mas o a sala de jogos pretende fisgar a atenção dos clientes do sexo masculino, que vivenciaram de perto os elementos propostos na sala.

Sala de jogos retro mania
(Foto: Andrea Duarte / arquivo pessoal)

"Estamos honenageando os anos 80. As mesas que existem no mercado são bem feiosas e sem nenhuma bossa, então, queríamos uma coisa mais descolada para o espaço, que é bem descontraído. O público é variado em idade e classe social no evento, porém nosso espaço visa agradar mais aos homens", explicou Andrea.
Sobre os artistas
Wark Rocinha trabalha há 13 anos com grafite, seja pintando telas ou imprimindo a arte em muros, fachadas e exposições. Sua última exposição internacional ocorreu em Toronto, no Canadá, na 918 Gallery, em novembro de 2013 - mas, segundo ele, há trabalhos expostos em diversos países.
Há oito anos, Wark dá aulas teóricas e práticas para jovens na Rocinha, comunidade da Zona Sul do Rio. Alguns dos seus alunos hoje em dia são professores de arte, tatuadores e designers. “As aulas de grafite ajudam os alunos a despertarem para a ilustração, ativa a criatividade do aluno e sua relação com a arte”, disse.
Leo Viansa, nascido no interior de Pernambuco, trabalha com grafite para clientes, em ambientes onde pode expressar sua arte com a concessão dos donos. Há oito anos no Rio, o grafiteiro já fez telas e usou o aerosol para pintar portas, paredes e objetos de decoração em ambientes domésticos na capital carioca e em São Paulo.
No Casa Cor, o artista também fez quatro telas sob inspitação renascentista para uma joalheria, espaço criado pelo arquiteto Thoni Litsz.
“Eu cresci fazendo isso. O grafite de interiores é uma nova pegada no mercado e a ideia é trazer a arte urbana, que é bem alegre e expressiva, para o interior das casas”, contou.

Casa Cor 2014 começa nesta quarta-feira (29), na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio (Foto: Guilherme Portugal/Arquivo Pessoal)