Causas da crise na Europa (o problema fiscal e a enorme dívida pública) e as consequências (piora na relação dívida pública / PIB, reservas baixas e o aumento das taxas de desemprego)
Maioria dos países tem elevados índices de endividamento, mas só os mais ricos conseguem reunir reservas para garantir estabilidade
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Manifestação na Grécia, no auge da crise financeira vivida pelo país:
frouxidão fiscal causa rombo nas contas públicas (Foto: Christina Kekka)
Em 2008, os Estados Unidos presenciaram o estouro da bolha imobiliária, terremoto que atingiu duramente a maior economia do planeta e gerou ondas de impacto em dezenas de outros países. Dois anos mais tarde, a crise atingiu em cheio a União Europeia, que se acreditava ser o mais sólido bloco econômico do mundo. Na raiz da crise europeia, está a enorme dívida pública, ocasionada por gastos excessivos, com despesas maiores do que as receitas e sem o devido lastro de reservas.
O problema foi, em suma, fiscal. Países financeiramente mais frágeis, como Grécia e Portugal, ou economias até então consideradas mais fortes, como Itália e Espanha, vinham, há anos, gastando mais do que conseguiam arrecadar. Assim, o Estado passou a financiar os custos por meio de empréstimos.
O Tratado de Maastricht (1992), que instituiu a Comunidade Europeia, estabeleceu para os países-membros que a relação entre dívida pública e produto interno bruto (PIB) não poderia ultrapassar o limite de 60%.
Na Grécia, o pior caso de descontrole das contas públicas na Zona do Euro, a dívida alcançou a marca de 148,6% do PIB em 2010, ficando na casa dos 340,2 bilhões de euros. Quando os números foram divulgados, instalou-se a desconfiança de que o governo grego não conseguiria honrar os compromissos e os investidores começaram a pensar duas vezes antes de comprar ações e títulos europeus.
Reservas baixas
Logo depois da Grécia, em termos de endividamento, estava a Itália, cuja dívida atingiu 118,4% do PIB. Em seguida, Irlanda, com 94,9%; Portugal, 93,3%; e Espanha, 61,1%. Esses cinco países são conhecidos pela sigla Piigs, formada pelas iniciais de seus nomes em inglês.
No mesmo período, a relação dívida/PIB da Alemanha estava em 83,2%, a da França, em 82,3%, e da Inglaterra em 79,9%, todas também bastante altas e acima do máximo estipulado pela União Europeia.
A diferença é que esses três países possuem economias altamente industrializadas, capacidade de investimento e grandes reservas internacionais — uma espécie de poupança em moeda estrangeira, em geral dólar — controladas pelos bancos centrais de cada país, que servem para cobrir eventuais déficits nas contas externas e evitar ataques especulativos à moeda nacional. Já os Piigs, além de apresentarem grande dívida pública relativa ao PIB, possuem alto déficit orçamentário e baixas reservas internacionais.
A maior relação dívida/PIB do mundo pertence ao Japão: 214,3%. Embora deva muito, a nação asiática tem como honrar as dívidas quando necessário, visto que detém o segundo maior volume de reservas internacionais do planeta (US$ 1,35 trilhão em 2012), atrás apenas da China (US$ 3,3 trilhões). Para se ter uma ideia, a Alemanha ocupa a 13ª posição, com US$ 238,9 bilhões; e os Estados Unidos, a 19ª, com US$ 148 bilhões. Apesar de ser o sétimo nesse ranking, com US$ 371,1 bilhões em reservas internacionais, o Brasil é o que detém a maior relação dívida/PIB entre os países emergentes do bloco conhecido como Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul): 54,9%.
Fuga por empregos
O tamanho da crise também pode ser medido pela taxa de desemprego. A Espanha lidera a lista com 26% da população sem trabalho. Logo após, estão Grécia, Portugal, Irlanda e Itália. A retração da economia da Espanha fez aumentar o pedido de imigração para o Brasil, reeditando um movimento do início do século 20. No final do ano passado, a presidente Dilma Rousseff discutiu com o primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, e o rei Juan Carlos modos de facilitar a entrada de trabalhadores espanhóis no Brasil.
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Espanhóis em busca de emprego, em Madri: crise econômica trouxe de volta
até o fenômeno da emigração (Foto: Vivian Fernandes/Radioagência NP)
Alemanha e França sentiram menos os efeitos da crise no nível de emprego, por causa do alto nível tecnológico e de industrialização. Em 2012, a Alemanha apresentou o sexto maior PIB do mundo, US$ 3,1 trilhões. É a maior economia da Europa, seguida da Inglaterra. Já a França ocupa o décimo lugar em termos de PIB, com uma taxa global de desemprego em torno de 10%. Mesmo assim, entre a população mais jovem, o índice sobe para 24%.
Causas
Por que a Europa, continente associado ao desenvolvimento econômico, à estabilidade e ao bem-estar social, chegou à beira do precipício, sem que ninguém desse antes o sinal de alerta? Uma das justificativas é a falta de mecanismos de acompanhamento e controle, pela União Europeia, das economias de cada país. O órgão responsável pela política monetária do bloco é o Banco Central Europeu. Mas inexiste uma instituição que acompanhe a situação fiscal e controle o balanço financeiro das 16 economias nacionais que formam a comunidade. Como consequência, os desacertos econômicos só são descobertos quando a situação se torna crítica.
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