terça-feira, 15 de abril de 2014

2º postagem-atualidades

Copa do Mundo em 2014: O duplo desafio brasileiro
Sediar o campeonato mundial de 2014 significa, para o Brasil, demonstrar a superação da condição histórica do processo de expropriação, da condição de ex-colônia e de país "subdesenvolvido", e revelar-se um país moderno
Por Adriane Nopes*

A modernização tecnológica e o desenvolvimento econômico são os princípios norteadores do ideal da sociedade moderna. Entretanto, os séculos de exploração representaram e representam um obstáculo aos países colonizados no que se refere à possibilidade de propagação desse ideal. O Brasil, neste contexto histórico, como país sede da Copa do Mundo de 2014, encontra-se em um duplo desafio: primeiro criar condições estruturais para sediar o evento; segundo, apresentar uma excelente seleção para fazer jus à condição de país do futebol e receber o título de campeão mundial em casa.
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Histórica e mundialmente, o Brasil é conhecido como o país do futebol; não somente por ser o único país com cinco títulos de campeão do mundo (1958, 1962, 1970, 1994 e 2002), mas também por formar seleções que, em campo, sempre encantam com suas jogadas criativas, irreverentes e de muita técnica. A cada ano de Copa gera-se uma expectativa sobre qual será a melhor seleção; mas não há dúvida de que a principal rival é a seleção brasileira. No caso da Copa do Mundo de 2014, no entanto, o desafio vai além do campo - da busca de ser o melhor país nesta modalidade esportiva -, é preciso também cumprir a tarefa de oferecer infraestrutura adequada para sediar um evento dessa magnitude.
Na primeira copa do mundo sediada no Brasil, em 1950, o país ainda estava em construção, ou seja, as exigências em infraestrutura eram menores
Na primeira Copa do Mundo sediada pelo Brasil, em 1950, o país ainda estava em construção, ou seja, as exigências em infraestrutura eram menores, e os ideais da modernização ainda se delineavam até mesmo no âmbito mundial. Entretanto, hodiernamente, sediar a Copa do Mundo de 2014 para o Brasil significa demonstrar a superação da condição histórica do processo de expropriação, da condição de ex-colônia e de país "subdesenvolvido", e revelar-se um país moderno. O grande desafio será modernizar o país seguindo os padrões exigidos pelo modelo hegemônico para sediar o maior evento esportivo mundial. O processo modernizador exige remodelação dos estádios, modernização de instalações, equipamentos e serviços; principalmente no que se refere à segurança e ao sistema de transporte terrestre e aéreo. Em última instância, esse cenário poderá simbolizar uma mudança em diversas dimensões sociais, políticas e econômicas do país, bem como no próprio imaginário de construção da identidade nacional.
O Brasil traz no âmago de sua história a necessidade da superação dos longos anos de exploração e estagnação política e socioeconômica, pois até o final do século XIX havia total dependência da coroa portuguesa, foi somente no início do século XX que surgiram os primeiros projetos de modernização do país. No entanto, a adoção da perspectiva hegemônica ditada por Europa e Estados Unidos como ponto de partida sempre representa um impasse para a consolidação dos países colonizados.
DESAFIO DA MODERNIZAÇÃOA ideia da modernização e seus desdobramentos tornaram-se pensamento fulcral para os países descolonizados, como um caminho de resgate de um passado de exploração, principalmente com o objetivo de superar o atraso do período colonial. O cabedal teórico do Ocidente, desde o período Iluminista, construiu um imaginário de progresso como base da concepção da sociedade moderna que desde meados do século XX vem-se apropriando da concepção de "desenvolvimento" como pressuposto do processo de modernização. Partindo desse princípio, faremos aqui uma breve análise crítica sobre a construção teórica dos pressupostos da ideia de modernização, refletindo sobre o impasse que o Brasil enfrenta para constituir-se enquanto sociedade moderna, adequando-se ao modelo idealizado.
Americanização
Termo empregado para descrever a influência que os Estados Unidos exercem sobre a cultura de outros países, resultando no fenômeno da substituição de uma determinada cultura pela cultura estadunidense. Quando tal se dá contra a vontade da cultura afetada ou pelo uso da força, o termo tem uma conotação negativa; quando é buscada voluntariamente, possui uma conotação positiva.
O conceito de modernização aparece somente no pós-guerra, inserido em um contexto de profundas transformações sociais, políticas, econômicas e culturais mundiais. A partir da década de 1950, a palavra passa a ser utilizada como termo técnico de análises socioeconômicas e tecnológicas. A ideia de modernização, segundo Sztompka (1998), é empregada frequentemente em três sentidos: a) um que denota a mudança social progressiva; b) outro que está atrelado à ideia de modernidade; e um terceiro c) que se refere ao esforço dos países "subdesenvolvidos" para alcançar os países "avançados". Todas estas acepções, mesmo que empregadas sob enfoques diferenciados, remetem à idéia de um modelo ideal de sociedade moderna como sinônimo de ocidentalização ou americanizaçãoOu ainda, em semelhante contexto histórico-social, "modernização significa europeização", como expressa Florestan Fernandes (2008). Para Habermas (2002) modernização significa "um conjunto de processos cumulativos e de reforço mútuo" no sentido de formação de capital e mobilização de recursos, de desenvolvimento e aumento da produtividade do trabalho, de formação de identidades nacionais, bem como da "expansão dos direitos de participação política".
O grande desafio será modernizar o país para sediar o maior evento esportivo mundial seguindo os padrões exigidos pelo modelo hegemônico

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Para a teoria vigente, a sociedade latino-americana é dividida em duas partes distintas: a sociedade moderna, urbana e capitalista e a rural, atrasada e feudal
No mesmo sentido, Berman (2006) trata o termo como uma multidão de processos sociais que geram o "turbilhão da modernidade". O turbilhão da modernização, na análise de Berman, é alimentado por processos sociais como as descobertas científicas, a industrialização da produção, a descomunal explosão demográfica, as formas de expansão urbana, os Estados nacionais poderosos, os movimentos de massa. Como impulso para esse conjunto de processos, aparece o mercado mundial capitalista, "drasticamente flutuante, em permanente expansão". Resumindo, o imaginário ideológico de "desenvolvimento" aparece como um movimento planetário de racionalização, urbanização, democratização, tecnologia e expansão do capitalismo.


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